sábado, 18 de janeiro de 2025

Esse lugar esquecido aqui dentro

Eu venho aqui com pouca frequência Lá fora eu tenho vivido toda uma vida, apesar de saber que só se passaram apenas dois minutos no inferno desde então Faz tanto tempo que não venho aqui que estranhamente, dessa vez não vim pra largar um peso gigante e sair andando leve Dessa vez eu vim conformado, vim só pra dar oi para o silêncio de uma mente quase nunca quieta Eu vim e me despeço carregando tudo comigo, por que cada dia menos faz diferença estar aqui dentro ou lá fora Todos os meus medos de lá de fora entraram comigo há algum tempo, eu não lhes temo mais, nem eles mais sabem de onde vieram ou para onde vão Mesmo agora que eu deveria estar confortável aqui dentro, sinto como se quisesse sair, como se algo estivesse me chamando pelo meu nome falso Que costumava ser falso, mas agora deve ser o verdadeiro, isso é claro, sempre vai depender de quem realmente me chama As vezes até mesmo depende do "pra que" me chama Eu vim pensando em ficar comigo mesmo, mas me pego a todo instante pensando no que estaria fazendo lá fora Nem a roupa do corpo eu trago pra cá Mas aqui estamos nós, jogando cartas e bebendo ristreto Uma vez lá fora, nunca mais se está profundamente dentro, nunca mais se está realmente dentro Nunca mais estamos definitivamente de volta.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Não sobrou nada

Eu dei o meu melhor, e ainda sim, eu não cheguei nem perto de entrar pelos portões... Eu gostava ao menos de olhar nos olhos dela e me sentir vivo, mas nem os olhos dela me desfibrilam mais... O meu coração é uma lápide esquecida, sem visitas, sem memórias póstumas... Sempre foi assim, mas imaginar que seria diferente algum dia me fazia acordar, escovar os dentes e sair... Eu jamais desejaria isso a alguém, jamais daria a alguém a chance de existir sozinho num mundo tão grande e cheio de vazio.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Sempre as coisas mais simples, resolvem as mais difíceis

É a minha quarta tentativa de cantar baixinho "Um canto para Caronte", mas a minha voz falhou novamente, e enquanto os meus olhos se encheram de uma tonelada cada, eu senti que algo estava parado dentro da minha garganta, então eu parei novamente, e apenas ouvi. Eu não queria deixar minha voz embargada levantar perguntas, porque eu não poderia reponde-las, não sinceramente, pelo menos. Deixar esse peso todo fluir de dentro pra fora, e escorrer pelo meu rosto sem precisar secar e sorrir, sem precisar dizer sequer uma palavra, é só o que eu preciso, ao menos é apenas o que eu preciso agora.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Ele moveu seus dedos e os fios moveram os meus.

Não há tempo para perder tempo, mas na verdade, eu não saberia o que fazer se pudesse escolher... Se em um ataque de rebeldia eu conseguisse mover um membro com força suficiente para romper um fio, o que eu faria depois? A mão invisível foi o que me fez ser quem sou, foi quem me moveu até aqui, foi quem moveu meus pés quando eu chutei as migalhas de pão pelo caminho, e foi isso que me fez esquecer de onde eu vim. Saber o caminho de volta só me faria querer voltar, mas me propus continuar, mesmo que por fé no que não se vê, mas no que se espera. Nada vai acontecer, se algo não acontecer antes...

sábado, 31 de outubro de 2020

Esse texto foi escrito por alguém sem história

Depois de tudo, é como se eu tivesse me assistido da janela de um ônibus vazio, durante anos, me assistindo "vivendo", fazendo planos, me alimentando, impondo regras, me amarrando ao pé da cama porque toda noite aqui, é noite de lua cheia, pelo menos toda noite eu sinto que algo quer sair de mim...mas na boa...no fundo eu sei que não há mais nada aqui. Na verdade, nunca houve. Eu arrumei o jeito mais simples de viver com um vazio do tamanho do mundo, e ninguém sabe o que me custou, o que eu posso dizer é que só existe conforto na mentira, e que eu faria mil vezes mais pra passar mais mil dias sem me questionar. Porque não existe sentimento pior do que esse de saber que não há nada depois dessa porta estreita, e principalmente ter que admitir que eu não tenho fé em nada. Eu acreditei que eu tinha ao menos um grão de mostarda, mas eu não tenho nada, e esse texto, e a minha voz, e os meus pensamentos, e a minha alma são incompreensíveis, são incompatíveis, são de um tipo raro, e nem por isso são especiais, muito pelo contrário. Eu olho para trás, eu não vejo nada, tudo está embaçado, eu não sei se era eu, se sou eu, quem está escrevendo isso agora, mas se você ler isso, talvez consiga enxergar que quem escreveu todos os textos aqui, é a mesma pessoa. Mas para mim, não é.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Eu não valho meu próprio esforço.

Eu queria que todos os dias fossem ruins, não, eu não queria... Só o que eu não queria era esquecer as promessas que faço. As mudanças, as reviravoltas, tudo só acontece nos dias ruins, quando você jura que nunca mais, e escreve com tinta invisível. Se eu não pudesse apagar o que escrevo, se eu não pudesse simplesmente guardar pra mim, eu seria menos mentira, e se eu fosse alguma verdade, qualquer verdade, talvez eu não me permitisse me questionar, assim voltaria aceitar que não tenho moral, tampouco coragem para ter coragem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

De volta às agulhas.

Eu precisava ficar bem, eu vinha andando de segunda a segunda com o peso do mundo nas minhas costas, pressionando insistentemente a quarta vértebra.
Eu precisava fugir, nem que fosse por algumas horas, e eu sei que não justifica, uma vez que disse a mim mesmo que nunca mais faria...
Sim, eu não cumpro promessas, especialmente as que faço em silêncio, onde as testemunhas não ouvem e não acusam.

Faz seis estações que meu sorriso enferrujou, e hoje finalmente eu deixei os músculos do meu rosto voltarem ao estado normal, eu até senti a dor de quando um musculo relaxa depois de tanto tempo contraído... eu relaxei como se estivesse acabado de contar até dois e meio sobre uma maca de cirurgia, e eu nem precisei estar sedado, só precisei do silencio da casa vazia para poder chorar como um recém-nascido chora, chora desesperadamente como se soubesse o que há de vir.

Todos sabemos o que há de vir, mas todos os dias eu acordo com medo do dia em que não vou mais aceitar saber.