domingo, 3 de dezembro de 2023

Não sobrou nada

Eu dei o meu melhor, e ainda sim, eu não cheguei nem perto de entrar pelos portões... Eu gostava ao menos de olhar nos olhos dela e me sentir vivo, mas nem os olhos dela me desfibrilam mais... O meu coração é uma lápide esquecida, sem visitas, sem memórias póstumas... Sempre foi assim, mas imaginar que seria diferente algum dia me fazia acordar, escovar os dentes e sair... Eu jamais desejaria isso a alguém, jamais daria a alguém a chance de existir sozinho num mundo tão grande e cheio de vazio.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Sempre as coisas mais simples, resolvem as mais difíceis

É a minha quarta tentativa de cantar baixinho "Um canto para Caronte", mas a minha voz falhou novamente, e enquanto os meus olhos se encheram de uma tonelada cada, eu senti que algo estava parado dentro da minha garganta, então eu parei novamente, e apenas ouvi. Eu não queria deixar minha voz embargada levantar perguntas, porque eu não poderia reponde-las, não sinceramente, pelo menos. Deixar esse peso todo fluir de dentro pra fora, e escorrer pelo meu rosto sem precisar secar e sorrir, sem precisar dizer sequer uma palavra, é só o que eu preciso, ao menos é apenas o que eu preciso agora.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Ele moveu seus dedos e os fios moveram os meus.

Não há tempo para perder tempo, mas na verdade, eu não saberia o que fazer se pudesse escolher... Se em um ataque de rebeldia eu conseguisse mover um membro com força suficiente para romper um fio, o que eu faria depois? A mão invisível foi o que me fez ser quem sou, foi quem me moveu até aqui, foi quem moveu meus pés quando eu chutei as migalhas de pão pelo caminho, e foi isso que me fez esquecer de onde eu vim. Saber o caminho de volta só me faria querer voltar, mas me propus continuar, mesmo que por fé no que não se vê, mas no que se espera. Nada vai acontecer, se algo não acontecer antes...

sábado, 31 de outubro de 2020

Esse texto foi escrito por alguém sem história

Depois de tudo, é como se eu tivesse me assistido da janela de um ônibus vazio, durante anos, me assistindo "vivendo", fazendo planos, me alimentando, impondo regras, me amarrando ao pé da cama porque toda noite aqui, é noite de lua cheia, pelo menos toda noite eu sinto que algo quer sair de mim...mas na boa...no fundo eu sei que não há mais nada aqui. Na verdade, nunca houve. Eu arrumei o jeito mais simples de viver com um vazio do tamanho do mundo, e ninguém sabe o que me custou, o que eu posso dizer é que só existe conforto na mentira, e que eu faria mil vezes mais pra passar mais mil dias sem me questionar. Porque não existe sentimento pior do que esse de saber que não há nada depois dessa porta estreita, e principalmente ter que admitir que eu não tenho fé em nada. Eu acreditei que eu tinha ao menos um grão de mostarda, mas eu não tenho nada, e esse texto, e a minha voz, e os meus pensamentos, e a minha alma são incompreensíveis, são incompatíveis, são de um tipo raro, e nem por isso são especiais, muito pelo contrário. Eu olho para trás, eu não vejo nada, tudo está embaçado, eu não sei se era eu, se sou eu, quem está escrevendo isso agora, mas se você ler isso, talvez consiga enxergar que quem escreveu todos os textos aqui, é a mesma pessoa. Mas para mim, não é.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Eu não valho meu próprio esforço.

Eu queria que todos os dias fossem ruins, não, eu não queria... Só o que eu não queria era esquecer as promessas que faço. As mudanças, as reviravoltas, tudo só acontece nos dias ruins, quando você jura que nunca mais, e escreve com tinta invisível. Se eu não pudesse apagar o que escrevo, se eu não pudesse simplesmente guardar pra mim, eu seria menos mentira, e se eu fosse alguma verdade, qualquer verdade, talvez eu não me permitisse me questionar, assim voltaria aceitar que não tenho moral, tampouco coragem para ter coragem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

De volta às agulhas.

Eu precisava ficar bem, eu vinha andando de segunda a segunda com o peso do mundo nas minhas costas, pressionando insistentemente a quarta vértebra.
Eu precisava fugir, nem que fosse por algumas horas, e eu sei que não justifica, uma vez que disse a mim mesmo que nunca mais faria...
Sim, eu não cumpro promessas, especialmente as que faço em silêncio, onde as testemunhas não ouvem e não acusam.

Faz seis estações que meu sorriso enferrujou, e hoje finalmente eu deixei os músculos do meu rosto voltarem ao estado normal, eu até senti a dor de quando um musculo relaxa depois de tanto tempo contraído... eu relaxei como se estivesse acabado de contar até dois e meio sobre uma maca de cirurgia, e eu nem precisei estar sedado, só precisei do silencio da casa vazia para poder chorar como um recém-nascido chora, chora desesperadamente como se soubesse o que há de vir.

Todos sabemos o que há de vir, mas todos os dias eu acordo com medo do dia em que não vou mais aceitar saber.

sábado, 18 de julho de 2015

De que lado você está?

Eu vivo caminhando sobre a linha tênue, assim como quase todo mundo.
Se eu cair para um lado, vou viver uma vida longa, adaptada, vou passar pelos meus dias com a confiança de alguém que sabe o que está fazendo, que executa friamente os planos que elabora de curto, médio e longo prazo.
A queda do outro lado é completamente diferente, eu simplesmente desisto de me encaixar, e abro mão de todo o resto, abro mão de tentar sempre acertar, deixo o rio seguir seu curso e aceito que meu lugar não é aqui, nem ali, nem em qualquer lugar. Enquanto me equilibro meu corpo está penso para este lado, e eu tenho me esforçado muito, muito mesmo para conseguir manter minhas opções, opções que talvez eu já nem tenha mais, talvez eu já esteja com os pés plantados no chão, mas meu coração ainda se equilibra nas incertezas de não saber realmente quem sou ou mesmo do que sou capaz.